2018-03-19

O Meu Caderno Diário

Hoje, vou iniciar um novo percurso por aqui. 
A ideia chegou pela intuição. Se foi o meu Anjo da guarda ou se foi outro ser, desconheço, uma vez que isso não é importante para mim. Sei que nunca estou sozinha, e que o meu amigo está sempre comigo. Portanto, Esta ideia é um novo projecto.
Vou pegar numa história que escrevi, partilhar e com ela debruçar-me sobre o comportamento humano. Todos aqueles momentos que fazem parte do nosso dia-a-dia e que muitas vezes, temos dificuldade de gerir.


Um dia ao levantar-se, olhou pela janela e viu o mar.
Ondas altas e azuis viviam sobre a vida marinha.
Marina recordava os tempos idos, quando se deleitava com a frescura da água salgada e o calor dos grãos de areia, da praia onde passava as suas férias, na infância.
Aquele despertar do sol relembrava-lhe o Verão passado, que lhe tinha dado muitas alegrias, mas que no momento lhe faziam as lágrimas rolar pelas faces.
Marina estava só em casa. Os seus parentes tinham saído, para fazer compras. Não quis ir com eles, porque, apesar de ser manhã, encontrava-se cansada e sem humor para enfrentar a vida citadina.
Absorta nas suas recordações, Marina não ouviu tocar o telefone e só ao terceiro toque ela despertou dos seus sonhos.
Despertando, dirigiu-se à mesa onde estava colocado o telefone, no hall da casa. - Estou? - perguntou Marina. Ouvindo do outro lado da linha, uma voz masculina, escutou: - Estou. A menina Marina Silveira está?
Reconhecendo a voz de quem se encontrava do outro lado, desligou o telefone. Mais perturbada ficou. Começou a sentir-se indisposta e a custo foi deitar-se, no quarto. E, adormeceu.
Quando os seus tios regressaram das compras, encontraram-na a dormir, vestida, em cima da cama. Marina, ao escutar ruídos na cozinha, despertou e por momentos ficou assustada. Ao escutar as vozes que vinham do andar de baixo, ficou mais tranquila. Levantou-se, passou o rosto por água e desceu. Encontrou os tios na cozinha, que arrumavam as compras.
Disse-lhes que se preparava para sair, pois tinha combinado com uma amiga de infância, encontrarem-se no apartamento dela, em Sintra.
- Tudo bem! - disseram os tios em uníssono. Deu um beijo aos tios e saiu.
Pegando na bolsa, tirou as chaves do carro e abriu a porta do seu Fiat 127.
Tinha intenção de chegar cedo a casa da Teresa. Pois tinham feito uns planos bestiais para aquele dia de Primavera. As flores começavam a aparecer aqui e ali, pelo campo. As floristas deveriam sentir-se felizes, por que as flores estavam a crescer e em breve todo o mundo quereria florir as casas.
Atenta à estrada e ao mesmo tempo absorta nos seus pensamentos, de repente ficou em pânico, por andar demasiado fatigada e nervosa. Viu um homem de braços abertos agitando um pano.
Subitamente, o seu carro pára sem ter tido consciência de ter colocado o pé no travão. Parou e por momentos não conseguiu raciocinar. Contudo automaticamente, abriu a porta do carro e dirigiu-se para o indivíduo, ao mesmo tempo que este ia ao seu encontro. 
Parecia estar noutro mundo. Aquela realidade parecia não existir. No mesmo instante, aflorou-se-lhe na mente a Teresa, o telefonema e sentiu-se extremamente cansada.
- Que aconteceu?- perguntou Marina, ouvindo a sua própria voz.
- Tenho um problema no meu carro - respondeu-lhe uma voz de homem, que parecia saber bem o que queria da vida.
Foi quando ouviu a sua voz, que Marina despertou daquele sonho, transe, estranho. Olhou à sua volta, como a certificar-se onde se encontrava.
Em tudo voltou.
- Pois bem, diga-me o que se passa e o que poderei fazer por si, Sr... - disse Marina.
- João Alves - respondeu-lhe o indivíduo. - O que se passa com o meu carro é o seguinte: devo ter o depósito da gasolina roto, pois encontro-me sem combustível para continuar viagem.Gostaria de saber se seria possível que a Senhora me poderia dar boleia até ao local mais próximo onde pudesse resolver esta situação.
- Pouca sorte a sua, Sr. Alves, pois só existe um contratempo. Eu vou para Sintra e não sei se lhe interessa ir para aí. Além disso, quem me garante que o Senhor está a dizer a verdade?
- Oh, minha Senhora, por amor de Deus, estou a dizer-lhe a verdade. Que interesse teria eu em estar parado numa estrada como esta?
A impressão que Marina teve, foi agradável, no entanto, com receio de ser enganada por mais um homem, levou-a a mostrar-se desconfiada. Ele está bem vestido e parecia que se encontrava de férias.
- Bem, então - resolveu dizer Marina  - vamos lá. Feche o seu carro e dou-lhe boleia ao local mais próximo. Só que vou para Sintra, e terá de resolver aí o seu problema.
João Alves fechou o carro e tirou aquilo que necessitava. Entretanto, Marina foi sentar-se ao volante. Pensativa, dá por si a admirar aquele homem, bem parecido, másculo e que `a primeira vista mostrava-se honesto e sincero.
Marina tinha tido, recentemente, uma má experiência e ainda estava a sofrer os efeitos disso. No entanto, isso a não tornara insensível ao sexo oposto e logo nada a impedia de admirar.
Ela gostava de ver um homem bem vestido, simples, que o aspecto geral a agradasse e ainda mais se o seu íntimo lhe dizia que havia um não sei quê que a atraía. Tinha um bigode, não muito espesso e bem delineado; um rosto masculino, com uma barba bem escanhoada e uns olhos maravilhosos, azuis, da cor do seu querido mar. Aquela pele morena que lhe fazia lembrar a praia, o sol, o calor, o sorriso, a alegria.
quando se apercebeu que ele se aproximava do carro, tentou disfarçar os seus pensamentos e de súbito endireitou-se no banco e colocou as chaves na ignição. Pôs o carro a trabalhar, enquanto esperava que ele entrasse.
João Alves entrou e ela, por segundos, reparou no seu perfil e ficou maravilhada com tal semblante. pareceu que não estava ali, que sonhava. Para sentir que estava ali mesmo disse: - De férias?
- Ainda de férias, mas de regresso a casa - respondeu João Alves.
- Ah, por isso, está tão bronzeado. Esteve no Sul, não?
- Responder-lhe-ei, mas antes disso, queria saber o seu nome, não mo disse.
- Marina Silveira, perdão por não ter dito. Esqueci-me completamente, preocupada em pensar onde poderei deixá-lo em Sintra. Talvez a minha amiga Teresa o possa valer, pois ela reside lá e conhece o local melhor do que eu.
- Sua amiga Teresa? Com certeza vai encontrar-se com a sua amiga e estraguei-lhe os planos.
- Oh, não de forma alguma. Combinámos que apareceria de manhã, antes do almoço, por isso, não tem problema.
- Então assim, tudo bem, fico mais descansado.
Calaram-se ambos. Marina ficou atenta à estrada e João olhava a paisagem. Por momentos cada um ficou com os seus pensamentos.
Marina enalava o cheiro agradável que vinha de João, e isso fez com que se sentisse mais agradada. Pensou que teria sido bem agradável ter encontrado um homem assim em vez daquele Luís que tanto a fez sofrer. Bah, não queria pensar no Luís, tendo uma companhia tão agradável.
Pensou: Deus queira que a impressão que teve dele não fosse falsa e nada de desagradável acontecesse.
- E, a Marina que faz? Também se encontra de férias?
Marina "regressou à terra" ao ouvi-lo perguntar.
- Sim, sim estou de férias em casa duns tios meus, na Ericeira. Sabendo que me encontrava bastante esgotada, convidaram-me para vir passar uns dias com eles. Como adoro o mar e me apetecia estar só,m aceitei o convite.
- Gosta do mar?
- Ah, adoro! -  exclamou Marina.
- Não me diga que gosta de ouvir o marulhar das ondas e sentir o cheiro fresco com que o mar envolve a terra?
- Sim, isso mesmo! Como é engraçado encontrar alguém que pense como nós. Geralmente, penso que aquilo de que gosto parece ser insólito e estranho para os outros. Raramente, encontro pessoas que sentem o mundo como eu.
No momento, Marina apeteceu-lhe carregar no travão e parar o carro, conversar com aquele personagem que parecia vir de outro mundo. Sentiu vontade de dizer um poema, e claro que seria inoportuno. 
João Alves era um desconhecido e no entanto, além de se sentir agradada, ele inspirava-lhe confiança e não sabia explicar bem porque motivo.

Ana Guerra




No comments: