2010-12-04

27 Maio 1994

Aqui estou eu! O dia está por acabar e os quilómetros de palavras percorrem-me o caminhar por todo o lado.
Elas saltam pelos meus olhares neste mundo preguiçoso e viciado. As revoltas sucedem-se como o abrir e fechar de olhos ao depararem-se com as solicitudes mundanas.
Quem sou eu? Quem sou eu que aspiro a ternura e ao amor, desejos dificilmente satisfatórios num mundo, cheio de vissicitudes contraditórias. A serenidade musical encarna as minhas ânsias que tentam percorrer o meu corpo e entregar-me ao sereno movimento corporal onde busco encontrar a harmoniosa junção de dois entes desencontrados nesta multidão.
A busca incessante na paz é “calmada” pelos tempestuosos momentos de paixão que ao encontro do solo sossegam e retornam ás origens, onde se voltarão a libertar nos céus e ciclicamente voltam aos rios e oceanos, onde alimentarão os seres viventes que me trazem essa ternura de volta na energia/amor trocado.
Mas a busca continua porque algo se vai perdendo e dispersando que todos buscamos unir pelos laços de similaridade.
Amanhã quando os pássaros nos envolverem com o seu cântico matinal, ouço o marulhar das ondas desvanecendo-se contra a margem e o encontro é-me familiar e conciliador. Descanso a mente constantemente exaltada pelo turbilhão de pensamentos confusos que á paz e desassossego me encontram.
Desconheço se alguma vez irei encontrar, nesta vida, a paz porque tento alcançar.
Será essa a minha missão? Dar a paz aos outros? Porque me é doloroso aquilo porque luto e ambiciono? Porque não consigo dissociar-me deste corpo?

Transporto as flores
                 do meu corpo
sujo e ensaguentado
                    pelos actos diários...
Transporto o amor
            com que elaboro
a minha dádiva
       incompleta e insatisfatória
na troca dos sentimentos
              regentes e esquecidos
pela constante degradação
                     que os homens
                             tentam esquecer
e erosivos continuam
                a alimentar os ilusórios
erros que vestem
           como verdades...

Quando descemos o pedestal que construímos pedra a pedra, cimento a cimento, encontramo-nos com a fria e gélida sabedoria que filosoficamente construímos para que nos sintamos melhor connosco próprios.
Pesca eterna esta, que de mão dada com a evolução enganadora, caminhamos em busca duma verdade nascida connosco e que constantemente nos cegamos a vê-la.
A separação constante com que nos infligimos – a morte – é a punição imposta para que paremos e paradoxalmente continuemos a ignorar os erros e esquecemos que somos compostos, essencialmente, de sentimentos. Eles são os originários de tudo o que possuímos, nomeadamente, a carne com que nos cobrimos ao nascer neste solo que destruímos e contruímos para que o exaltemos, e matemos.
Esta ilusão que aceitámos edificar é a minha recusa, mas da qual não consigo dissociar-me, porque aqui estou como os outros.
Mas a contínua revolta atraí-me á luta ardilosa (arduosa) de não esquecer que foi o amor que me fez nascer.
Ora, nascida de tal componente como poderei ignorá-lo? É a pura verdade! Mas como poderei encontrar a verdadeira arma para mantê-lo vivo, senão vivê-lo? É esta difícil tarefa em que me encontro e mais uma vez, o meu Pai me coloca. Uma tarefa terminada, mais um filho nascido, e terei de continuar o meu trilho. TRANSFORMAR será o conceito? De mutação em mutação edifico o ser, já por si elaborado mas tão simples como a lágrima que corre pelas faces da ingenuidade dum rosto infantil.
São estes os meus símbolos porque os reais estão adormecidos num centro que guardo dentro de mim. Alguns percursos são percorridos pela certeza, outros pela insegurança, outros ainda pelo conhecimento, pelo saber. Que amálgama terei de construir para que possam coabitar nesta desordem?
A vontade, certeza de querer e poder, transporta-me a uma serenidade segura, que nem sempre consigo encontrar com a confiança que deveria envergar todas as vezes que uso o palavreado que criado foi para que a comunicação interior seja trocada.
Transformar será a pedra ancestral com que nos comprometemos mas nem sempre acertamos. Transformar sem transferir? Transformar construindo? Onde estás tu, alma gémea. Que deverei encontrar?
Não estás aqui? Mas desejas que encontre a harmonia do corpo e espírito. Talvez seja esta a luta maior em que me encontro. A harmonia entre a matéria e a não-matéria, entre o ser e o não ser.
As tarefas que encontro para apaziguar o meu corpo acabam por se tornar insatisfatórias porque a realização imediata não permanece. A minha velocidade não é acompanhada pela dos outros. Os outros estão dispersos e não conseguem encontrar a fusão, para que a união seja realizada e conseguida.
As palavras surgem como armas apaziguadoras e criação para que o amor seja partilhado. Sem o gosto doce na boca, o amargo atravessa-nos e dispersa-nos nas sensações. Os sentimentos são construções sem fundações porque elas já existem sem permanecerem. Como agarrá-los quando a sua solubilidade (solúveis) não os une.
Agarramo-nos á matéria como tábua de salvação e encontramos a realização apaziguadora de força necessária para que voltemos a encontrá-los dispersos para que os unamos novamente, e é este constante ciclo de que se compõe a nosssa existência.
Almas errantes, estas, com que me deparo diariamente, que tanto desafio e nada me dizem, porque iguais a si mesmas encerram um segredo não partilhado com o receio da perda individual, mas a que se recusam aceitar.
Ás cegas tacteiam a realização imediata e efémera em que se satisfazem com a construção temerária dos objectos rodeantes.
A busca interior é constantemente solicitada para que não ignoremos que é essa a construção necessária para que o nosso núcleo permaneça intacto a tudo que nos envolve.
Todos os dias vejos rostos apinhados de súplica do esquecimento de que somos filhos ignorados por nós próprios.
A música é a veste que mais aprecio porque me transforma e transporta, ao meu íntimo e faz esquecer a sujidade que os homens preferem encarnar.
Porque não se vestem eles com ela e personificam a leveza no transporte, a ternura do perfume, a suavidade primaveril, a frescura verdejante, cálido correr das águas, o chilrear das aves, o pigarrear dos roedores... que mais me recorda esse sentimento que não consigo expressar porque as palavras são meros instrumentos que utilizáveis são limitados e imperfeitos.
E, o que é isso, a perfeição? É como a verdade, caminhante seguro e confiante que estes seres continuam a contorcer.

2010-11-16

fruto a TI!!!

A surpresa...
contorna-se de olhares trocados...
o cheiro incorpora-se 
             pelos meus dedos...


A comunhão veste-se 
   com o arfar
do teu corpo...


A música calada 
     do teu olhar...
convida-me á suspeita
       ...dos teus âmagos!


Consentes na lívida descoberta...
    clamas pela entrega...
a suave dádiva
delicia-te...


Buscas, não mais do que...
...o momento escarlate!


Da montanha respiro 
...o rio que te percorre
       

2010-11-08

 A um ser...




Voltei-me...
                     vi um rosto...
assustado
          com vontade de viver!


Voltei-me...
                        vi uma rocha...
descolorada
              suplicando por água!


Voltei-me...
                          tocou-me um sol...
que procurava
                  a sua fonte!


Voltei-me...
           
                        e, a estrada chama-me...






 18h12

2010-10-16

" É necessário estar sempre embriagado. 
Tudo está aí: é a única questão. 
Para não se sentir o horrível fardo do Tempo que quebranta os vossos ombros e vos curva em direcção à terra, deveis vos embriagar sem trégua. 
Mas de quê? 
De vinho, de poesia ou de virtude, como quiserdes. 
Mas embriagai-vos." 
Charles Baudelaire

2010-09-04

a um homem maravilhoso!


Existe um sol em mim...
que traz nas suas palmas as estrelas
que se estendem....
pelos rostos
..............que caminham
pelas vertentes
escamadas
da vida..........
eu só desejo
uma mão
em que me agarrar....
e construir...
.... um mundo!

6-Jan-2008

2010-08-30

a marcelo, um conquistador!


O caminho que tomas...

.......caminha contigo as vezes...

que o sonhas!


No rosto, teu olhar ilumina

a estrada que te apontam...

sem ou com labirintos

desenhas contornos em ti...

e, nos outros...


Tuas mãos vestem-se do sabor...

encerrado no teu coração

albergando as petúnias...

perfumando o ar

que envolve teus castelos...


Teus passos ressoam no silêncio...

que as montanhas albergam

por entre a música dos ramos

verdes, castanhos, púrpura

esvoaçando nos dorsos

de seres míticos...

2010-08-16

homenageando a Carla Nogueira


a vida tem um passo...
cujo rosto, o teu se inclui...
cada passo...
...... transforma-se no ser que ÉS!

Cada sorriso teu...
marca a pedra do teu castelo...
...cuja estrela...
se ergue, iluminando...
.................o teu, e dos outros
caminho...

O pulsar no teu peito...
acorda-te...
recordando o milagre que existe em ti!

2010-08-07

somos...


quando sonhamos...
...............expandimos quem somos
o nosso destino transforma-se!

as asas esculpidas
pela música que expelimos...

...as canoas usadas
nos rios encerrados em nós...

rebolamos...
inspiramos a seiva dos que
.... nos cercam.. envolvem...

na nossa auréola...
.......................dilata-se e contraí-se a chama...
...que SOMOS!!!


uma dançaaaaaaaaaaaaa


o teu cheiro dança por entre
os meus passos
trémulos...
........... hesitantes
a saudade
transforma-se
numa dança estonteante
... como o olhar por entre as pétalas
rolantes da serra...
e os seus gritos sussurrados...
comungando
o gosto rebuscado
do teu ser...
que floresce sempre ... cada dia....




2010-08-04

Tosca - Every Day & Every Night -mantenho o título... caminhada...

se eu me entregar
... ao balançar
do eixo terrestre...
tudo se encontra no seu EU...

o seeennnntiiiirrrrrrrrr
roça-me este coorpooooo
até mais...
os pássaros adormecem em mim...
as árvores estonteam por mim...
os rios crescem por mim...

durante o esvoaçar...
as flores endossam-me...

os abraços turbilham...
.... estremeço no olhar!!!...

as mãos entrelaçam-se como o som da abelha...
na confluência dos corpos...
até as pontas dos dedos fluirem pela suavidade...
de TI!!!!




um sonho doceeeeeeeeeeee


um canto...
adormeci...
sonhei...
... contigo!
o meu cavaleiro da montanha!...

vasculhei...
as profundezas...
do meu ser...
......encontro-me!
e, a testemunha desabrocha...
como a nascente...
..................... nos recônditos trilhos
...... por entre os dedos...
... pelos laços.....

2010-07-13


O Guardador de Rebanhos

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Alberto Caeiro