2008-06-15

“Ama e faz o que quiseres” – de Eduardo Sá (um artigo)


Meus caros leitores, a partilha de um presente, como este, é algo que me dá muito prazer. Acredito que o autor não se zangará pelo facto de o termos colocado aqui, porque o considerámos de uma estimado valor. Ele data de Dezembro de 2003.
Uma perspectiva diferente esta, que ele se vos apresenta - o amor - não como um sentimento, que todos se habituam a ver como tal! Mas como ele diz, uma consensualidade deles... Pois é, afinal, o que é isso de sentimentos, emoções e uma panóplia disso mesmo?
Gostava de escutar as vossas vozes, para podermos continuar a "discussão", mas que sem vós, não tem sentido!
Aguardo-vos!

“Ama e faz o que quiseres” – de Eduardo Sá (um artigo)
1. “Talvez de todos os desencontros com que nos brinda, desconfiemos (em segredo) que o amor seja um adereço paleolítico que se desencontrou com o desenvolvimento. Teimosamente, não se apresenta sob um formato normalizado. E, sem que se perceba porquê, chega-nos mal embalado, sem código de barras e - pior – sem as datas de produção e de validade (o que, como compreendem, é uma ameaça, intolerável, para a saúde). Para mais, há pessoas que se lamentam – com razão!... – de que o amor lhes chega mal acondicionado. Ou porque são premiados com a versão despojada do “amor e uma cabana” (que, presumo, lhes permitirá ver estrelas, mas que decerto, será responsável por resfriados e incriminantes rouquidões). Ou porque a versão rodeo as premiou com o banco de trás de um automóvel de baixa cilindrada (que desconcerta pelo cheiro a gasóleo ou pela companhia de uma folha de jornal injuriando a arbitragem). Ou porque na versão cool, o amor (... nas dunas) – não que saibamos por nós (é claro!), mas pelo que se ouve – é acompanhado por uma areia incontornável que nos sugere que o Paraíso é áspero, afinal...
2. O amor passou de moda.Ainda sugere – a alguns resistentes – cartas de amor quando “o que está a dar” são os sms. E, faz-se de olhos nos olhos, quando a maioria das pessoas se insinua, diante do amor, pelo canto do olho.
E vive-se sem horas, lânguido e longamente. O que parece uma patetice, num tempo todo ele muito... fast-food. Salvo seja!.
..
3. Mas, meus amigos, o amor é a encruzilhada de sentimentos que nos separa da morte e da vida. E há, realmente, pessoas que nos viram do avesso, nos tiram as nuvens do olhar e banham de sol o nosso coração. Acerca delas falamos do amor, como se ele fosse um sentimento... Mas não é. È uma consensualidade de sentimentos. Daí que a tranquilidade do amor nos rebulice e, com ela, as estrelas se insinuen onde, dantes, dominava a indiferença que nos levava a guardar o melhor do mundo... sempre para mais tarde.
4. Talvez, só aí, ao descobrirmos tudo o que o amor não é, percebamos que o amor não é uma forma de ver o mundo com os olhos do outro. É mais! A redenção com que o amor se dá passa pela anunciação de encontrar, nos olhos do outros, uma forma de ver para além dos nossos olhos e dos dele. O amor não é bem um encontro de verdades. É melhor! É confiarmo-nos a alguém e entregar, pela mão dos olhos dele, o nosso olhar ao desconhecido, guiados pela esperança de vir até nós “um infinito de nós dois”.

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