2006-08-03

“Educação para a Paz e para a não violência" – de Dalila Paulo


Quero partilhar algo convosco.

Vou transcrever um artigo, da revista "psicologia actual", que me fez feliz, por sentir que são aspectos que eu transmito aos outros. Quem os ler, vai revê-los... Obrigada!

Educação para a Paz e para a não violência – de Dalila Paulo psicoterapeuta, facilitadora da Arte de Viver em Paz. Presidente da Unipaz-Portugal Campus Avançado da Universidade Internacional da Paz



Se perguntar a qualquer pessoa se quer viver em paz e em Não-Violência ou, em permanente agitação interna e externa, resolvendo os conflitos de forma violenta, o mais certo é que lhe respondam que a primeira opção é não só a que consideram a mais adequada como a que mais desejam.

A resposta é a de que somos fruto de uma crise de fragmentação resultante do exacerbamento de uma orientação assente no paradigma newtoniano-cartesiano que coloca a ênfase sobretudo na Razão e numa lógica mutuamente exclusiva, isto é, nada é verdadeiramente digno de consideração a não ser que quantificável e analisável pelo Pensamento e pela lógica de que A é necessariamente de B.

Foi com base neste paradigma que construimos um mundo interno e externo fragmentado e mutuamente exclusivo.

Vejamos ao nivel externo este paradigma trouxe-nos uma sociedade com um modelo competitivo e exclusivo, "só posso ganhar se tu perderes", "só posso ser rico se tu fores pobre", "só posso ter lucro se tu tiveres prejuizo" e desenvolveu um sistema de ensino assente sobretudo no Pensamento, na passagem discursiva de informação.

Ao nivel interno, trouxe-nos um ser humano desarmonioso, fruto de uma educação que tem uma visão fragmentada do Ser, que apenas considera a função razão, a aquisição da informação e do saber fazer técnico e se esquece de educar as outras funções psíquicas que tal como definidas por Jung são o Sentimento, a Sensação e a Intuição. Um sistema de ensino que promove doutorados, que permanecem, inúmeras vezes no bê-á-bá da capacidade de lidar com as emoções pessoais e as dos outros e no jardim-de-infância das suas capacidades intuitiva e sensitiva. Discuramos o discurso sobre a Paz e a Não-Violência mas não aprendemos a Paz e a Não-Violência.

Como sair então deste ciclo vicioso?

Com as descobertas da Física quântica, particularmente de que, ao nível do microcosmos, o quantum tem a probabilidade de ser simultaneamente onda e partícula, nasceu um novo paradigma que tem vindo a possibilitar o resgate de uma visão holística da realidade e o assentar numa lógica mutuamente inclusiva, que torna possível passar do “ou isto ou aquilo” para o “isto e aquilo”.
Para sair do ciclo vicioso, precisamos, então, começar urgentemente a balizar o nosso olhar sobre o mundo através de um paradigma inclusivo. Um paradigma a partir do qual é possível a construção de um sistema educativo para a totalidade do Ser, isto é, para a promoção do desenvolvimento equitativo e equilibrado de todas as dimensões do ser humano: o corpo, a mente e o espírito.
É necessária a expansão de modelos educativos em que à inteligência racional seja adicionada a inteligência emocional e espiritual, colocando assim em acção, tanto o hemisfério esquerdo, como o hemisfério direito.
Uma Educação para a Paz e Não-Violência é então aquela que assenta numa abordagem holística do acto de educar, onde cada momento de aprendizagem acontece colocando em acção cada uma das funções psíquicas (razão, sentimento, sensação e intuição).
Tomemos um exemplo para tornar mais clara a diferença entre a apresentação de um momento de aprendizagem mediante um sistema de ensino baseado na passagem da informação e da técnica (Modelo 1) e um sistema de ensino para a Totalidade do Ser (Modelo 2).

Módulo sobre o processo germinativo das plantas:
Modelo 1
Ø Passagem de acetatos com a descrição dos passos da germinação
Ø Semear e observar o processo de crescimento
Modelo 2
“Quem vivencia não decora, aprende a vida”
Ø Vivência corporal do processo germinativo. O corpo passa por todos os processos
Ø Relação entre o processo da planta e a sua história pessoal. Eco das emoções surgidas com a vivência corporal.
Ø Exercício meditativo: Ser “Um com a Planta”
Ø Passagem de acetatos como a descrição dos passos da germinação
Ø Semear e observar o processo de crescimento

Um modelo educativo para a totalidade do ser é aquele que inclui uma aprendizagem da Sabedoria das emoções, que só acontece através de uma “inducação”, um tempo de verdadeira vivência que torne possível;
Ø Reconhecer e enfrentar as emoções pessoais, os seus medos, sentimentos de perda e de rejeição.
Ø Aprender a amar-se a si mesmo
Ø Aprender a enfrentar e reconhecer as emoções dos outros
Ø Aprender a lidar com as emoções dos outros de forma criativa
Ø Aprender a lidar com o stress

E abraça também a dimensão espiritual, quer dizer, a aprendizagem vivencial dos vários níveis de consciência, das dimensão onírica, simbólica e universal.
É uma educação que, tal como refere Jacques, se baseia em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a Ser.
É também desta forma que á Paz pode ser dada uma dimensão mais profunda do que a usual convicção de que é o oposto da guerra. Ela passa sobretudo a ser um estado interior advindo da capacidade de dar atenção ás emoções destrutivas do bem-estar emocional e espiritual, tal como o ódio, a raiva, o ciúme, a inveja e o medo e de os transformar nas emoções catalisadoras da felicidade, foi como o amor, a compaixão e a alegria.
A Não-Violência é o resultado óbvio desta transformação interior.

Como pode dar passos em relação a esta transformação?
Através das quantro vitórias na transformação das emoções destrutivas em emoções de paz:
Ø Ocorreu uma situação conflituosa onde deixou que a zanga tomasse conta de si e por isso reagiu violentamente, quer do ponto de vista verbal/psicológico, quer do ponto de vista físico. À noite, depois de acalmar, torma consciência que a reacção foi exagerada.
1ª Vitória: No dia seguinte fala com a pessoa com quem esteve em conflito e diz-lhe que a sua reacção foi exagerada e pede desculpa por isso.
Ø Ocorre uma situação conflituosa, sente que a sua raiva começa a subir, entra nela, e começa a reagir violentamente.
2ª Vitória: Num determinado momento, lembra-se deste artigo, começa a baixar a sua reacção violenta e permite-se escutar o outro e encontrar pacificamente uma solução.
Ø Ocorre uma situação conflituosa, sente que lhe chega a sua raiva.
3ª Vitória: Observa-a a chegar, acolhe-a dando-lhe uma flor, ou o que achar melhor, mas não entra nela e continua a resolver a situação de forma pacífica.
Ø Ocorre uma situação conflituosa, sente que a raiva chega.
4ª Vitória: Transforma-a num dos catalisadores da Paz (Amor, Compaixão, Alegria, Equidade)

Não sendo este um processo fácil, como então, torná-lo possível?
Tome consciência de que:
Ø Quando aponta um dedo para outra pessoa, ficam três dedos a apontar para si.
Ø Quando fica irritado com alguém, isso apenas quer dizer que essa pessoa está a espelhar algo que não quer, ou não pode ver em si. Algo que rejeita e que, por isso, lhe retira o poder de se manter firme na sua acção não-violenta. Ninguém tem o poder de o irritar, é você que lhe dá esse poder.
Ø Fale apenas de si, ainda que seja mais fácil, por exemplo, dizer “o ser humano tem muita dificuldade em mudar”, do que “eu tenho muita dificuldade em mudar”, ser capaz de o mencionar, catalisará em si um processo de consciência e verdade interior.
Ø Torne consciência de que a sua vida é como a respiração... inspirar, largar, e que assim sendo não faz sentido apegar-se a algo, ao ponto de ficar doente. Entre no fluxo da respiração da sua vida...”


Espero que fiquem a pensar e... não esqueçam que estou aqui, coloquem as questões todas que sentirem vontade, responderei!

1 comment:

Anonymous said...

Minha flor de lis,
ter conseguido alcançar algumas das etapas de que falas no artigo...é simplesmente uma vitória!!! Não decorei, aprendi sim, com as experiências e o ser humano, é aí q entras tu!!!
Mas vou continuar nesta escola cm aprendiz...contando sempre c o apoio do "mestre"... Próximo passo: parar de pensar pelo outro... consciencializar sim, mas tb verbalizar, não pelo, mas sim COM o outro... aprender a pedir e a receber em amor. Este é mais um desafio p partilhar...mais um ensinamento para o meu Mausoléu do Amor.

bem hajas!!
um beijo
mg